4 de setembro de 2008

vida de repórter...





Depois da chuvarada que caiu por estas bandas na semana passada, fui fazer uma matéria no meio de uma montanha, a tal Gyodo-san, em Ashikaga!  Tá vendo essa "cachoeira"? Pois é, isso era a água escorrendo lá de cima!

A placa mostra onde eu estou, no estacionamento, e o templo onde seria realizado um festival de música, bem no meio... Ser analfabeto é uma tristeza! Eu não tinha idéia da distância, mas tinha que chegar lá! 

Viu a escadinha? Era só o comecinho, fui me embrenhando pela mata carregando tripé, câmera, acessórios... deixei o guarda-chuva, melhor morrer de pneumonia que carregar mais coisas... Fui subindo, subindo, subindo, a mata foi fechando, ficando meio escuro, o barulho da aguaceira escorrendo não me permitia ouvir mais nada e eu morrendo de medo de cobra, macaco, sei lá o quê nessa selva... 

Fui suando e desidratando, acabei botando tudo pra fora antes de chegar ao tal templo.... A altitude também não ajudou em nada. Lembrei do monte fuji!!! Pensei, putz, hoje eu morro! Olhava pra cima e só via mais escadas, lamacentas, esverdeadas, encharcadas... Tive pavor de escorregar e cair. Empunhei o tripé como uma arma, olhando para todos os lados, para cima e para baixo, ficando mais zonza... 

Passei por um casebre e tive dó de quem mora ali, nem sinal de vida... Fui subindo mais um lance de escadas quando uns cachorros apareceram. Não conseguia nem correr. Subi até o topo e um maldito cachorro veio atrás! Exausta, encostei o tripé no chão, no jeito, caso precisasse usá-lo, e coloquei a sacola com os acessórios entre a fera e eu. Ele ficou cheirando, ladrando e arreganhando os dentes. Minha raiva era maior que a dele, se atacasse seria melhor me matar, senão ele com certeza levaria a pior!

Aí apareceu um velhinho. Devia estar dormindo. De olho no cão, perguntei ao homem onde era o templo. Ou minha voz tinha acabado ou ele era surdo. A cachorrada gritando, eu achando que estava berrando, aquela mata fechada... Repeti minha pergunta e ele foi recolhendo os cachorros, não sei quantos tinha, estava preparada para enfrentá-los não importava o número. 

Fui descendo e o cachorro respeitou a minha cara de ódio, foi na frente, abanando o rabo e de vez em quando me ameaçando. O velhinho prendeu os cachorros, que finalmente se calaram. Queria sentar, tomar água, respirar... consegui me fazer entender e ele me disse que o tal Join ji era lá mesmo! Só então notei um enorme sino na frente da casa! Era lá, mas o festival havia sido cancelado porque havia muita água impedindo que se puxassem os cabos de energia! (pelo menos foi o que eu entendi)

Queria sentar e chorar lá mesmo, mas estava tudo enlameado. O homem chegou a me mostrar o "palco" e eu só queria soltar uns palavrões.

Agradeci e imediatamente comecei a descer, temendo que ficasse muito escuro e mais perigoso. No meio do caminho, botei tudo pra fora de novo, pelo menos o que restava...

O lugar era tranquilo, bonito, mas eu tinha sede e não me atrevi a beber aquela água que jorrava aos montes. Também não me agradava estar lá sozinha, e se eu desmaiasse? A sensação, pelo menos, eu tinha. Dramática, imaginei um helicóptero resgatando o meu corpo inerte dias depois, em parte comido por bichos, só reconhecível pela arcada dentária.

A imagem me apressou e consegui chegar ao estacionamento. Quando terminava de guardar o equipamento, um carro se aproximou. Uma senhora parou e ligou para alguém. O que será que ela queria num lugar tão ermo? Estaria ela encontrando o seu amante? Achei graça imaginando ela com algum velhinho, coisa antiga, separados pelos costumes da sua época, mas ainda apaixonados, obrigados a casamentos falsos em nome das tradições. Isso que dá gostar tanto de literatura... Me aproximei e fiz sinal para "falar", perguntei se ela iria ao festival, disse que não, então eu fui embora. 

Parei um pouco para tirar fotos e logo a mulher me alcançou. Achei que ela vinha atrás de mim... seria ela da yakuza? E se ela foi lá jogar algum corpo? Ai, meu deus, e agora? Eu vi seu rosto, seu carro... Pisei no acelerador e voei nas curvas. Virei na primeira rua e ela seguiu reto... acho que ando vendo muitos seriados policiais... hahaha  

Finalmente cheguei a um combini. Água engarrafada, pelo amor de deus! Peguei um chá gelado também. Ainda dava tempo de cobrir um "carnaval" para japas na minha cidade... 

 

2 comentários:

Elenice disse...

Olá Hilda, ia olhar só as fotos, mas não resistí e acabei lendo esta postagem....gostei muito de sua imaginação, com é fértil!
Bem o lugar, ond fica...quero ir lá...afinal é aqui em Ashikaga...depois vc traduz aquela placa de kanjis....hahahaha...por favor....Abraços.....e até breve.

Hilda Handa disse...

Pois é, não sei de onde tiro tanta bobagem! hahaha

Quanto ao lugar, quero esquecer que estive lá! hehehehe

Obrigada pela leitura!

Abraço!