4 de julho de 2008

Casal Imperial


Neste ano comemora-se o centenário da imigração japonesa no Brasil. É motivo de muita festa e alegria de um lado do planeta, mas do outro não é bem assim. O governo japonês se viu "obrigado" a enviar seus cidadãos a outras partes do mundo porque aqui a crise era grande e a miséria ainda maior. Parece uma história que a gente já ouviu em algum lugar... Portanto, não há muito interesse em ficar relembrando essa "história". 

De qualquer maneira, são cem anos e os descendentes fizeram o caminho de volta. Agora são os nikeis (descendentes de japoneses nascidos em outros países) brasileiros que vêm trabalhar no país do sol nascente. Não há como ignorar os mais de 300 mil brazucas espalhados pelo arquipélago. 

O casal imperial não foi ao Brasil participar das homenagens e celebrações porque já estão velhinhos. Mas foram representandos pelo príncipe herdeiro e uma comitiva. 

Como não puderam viajar, decidiram visitar a cidade com a maior concentração de brasileiros em território nipônico: Oizumi. Viajaram em shinkansen (trem-bala) próprio de Tóquio a Kumagaya e depois vieram de carro. 

A cidade ficou lotada de policiais por várias semanas. Eles andavam pelas ruas, mediam, cronometravam, tiravam fotos. Planejaram a visita passo a passo, detalhe por detalhe. Ficou decidido que eles iriam à prefeitura de Oizumi, depois conversar com 20 brasileiros na fábrica da Sanyo, à prefeitura de Ota (aqui do lado), onde eles também almoçaram, e uma passagem por uma escola japonesa para conversar com pequenos nikeis e assistir à uma apresentação de capoeira.

A imprensa brasileira é meio marginalizada aqui, não fazemos parte do "kurabo"  (clube) japa e portanto eles não estavam querendo nos credenciar para cobrir as visitas. Mas acabaram cedendo e nos deixando filmar em dois lugares (a Sanyo e a prefeitura de Ota). E só duas pessoas poderiam ir. Uma equipe de Tóquio viria me ajudar, um cinegrafista e uma tradutora. Pela minha deficiência na língua japonesa, os dois foram credenciados e eu ficaria com a cobertura de rua.

Logo de manhã finquei pé na prefeitura. Havia muitos velhinhos porque era uma segunda-feira! Pouquíssimos brasileiros foram até lá. Acho que não temos essa fixação com a realeza. Eu mesma não estava achando grandes coisas hahahaha  Coloquei a minha braçadeira de repórter e fiquei zanzando por lá sem que ninguém me perguntasse absolutamente nada! Achei meio furada essa segurança. Eu estava com uma mochila enorme nas costas que poderia conter uma bazuca e ninguém me pediu qualquer documento. 

A rua de frente para a prefeitura estava vazia, as pessoas ficaram nas laterais aguardando enquanto uns guardinhas diziam como teria que ser o comportamento. Por exemplo, eles entregaram bandeirinhas do Japão para todos, mas insistiam que elas deveriam ser balançadas na altura da barriga e não acima da cabeça.  É claro que na hora em que o carro oficial apareceu ninguém se lembrou de regra nenhuma e só se via bandeirinha chacoalhando pelos ares... 

O que achei mais interessante foi que não havia uma cordinha sequer separando os espectadores. Eles foram avisados que não poderiam passar de lá e era o que bastava. 

Quando os batedores apareceram o povo delirou. Fiquei sozinha na rua enquanto o carro com o casal passava acenando. Poderia ter jogado uma bomba ou até esfaqueado o imperador! Fiquei meio chocada com isso. Talvez tivesse algum atirador de elite mirando na minha cabeça, mas isso a gente nunca vai saber... O problema aqui é que tem muito doido e algum deles poderia muito bem querer assassiná-los... 

Assim que o casal desceu do carro, eles se viraram e passaram a acenar para a multidão, que enlouqueceu! Os velhinhos começaram a sair das laterais e me empurrar. Pensei, "vai dar caca". Aí, um guardinha levantou os braços e disse: "dame", que quer dizer "não pode". Se fosse no Brasil ele não só teria sido ignorado, como pisoteado. Aqui, a multidão inteira parou! Essa é a primeira foto. Veja como alguns já estão mais adiantados (o guardinha está de costas para a entrada da prefeitura), mas todo mundo pára! É de tirar o chapéu! Aqui se diz que não pode, não pode mesmo... Impressionante...

A foto de baixo é da multidão que se esprimia na chuva esperando o cortejo passar. Levei um banho!

 

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