18 de julho de 2008

"obachian"

Gosto muito de crônicas. Acho que elas suspendem o tempo por um segundo e batem um instantâneo mágico... Dia desses escrevi uma, aqui vai...

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Há muito tempo que não como em um fast-food. Resolvo entrar e pedir um sanduíche e umas batatas fritas com chá gelado. Encontro uma mesa e, quando me aproximo, uma senhora, que está atrás de mim, me diz que já ia sentar lá. Não sou de dar barraco... Apesar de cheio, viro pro lado e há uma outra mesa. 

Sento devagar com minha pasta, meus pensamentos vagos e uma bandeja. Bem ao lado vejo uma senhora com o que parece ser sua netinha. Acho graça e me recordo da minha avó, minha "obachian" (em japonês). Sempre fez minhas vontades e, se fosse hoje, certamente me levaria para comer estas porcarias.

Vou longe nas minhas recordações, enquanto minhas batatas esfriam. Fui a neta preferida entre tantos. Sempre no seu colo, o que causava ciúmes nos tios ainda pequenos, ou comendo as guloseimas que ela fazia para todos, mas cuja vasilha eu devolvia vazia. Não se zangava. Fazia mais. Seu prazer era me contentar. E eu a servia com vontade.

Abro meu sanduíche de filé de peixe, dou uma mordida. Nem chega aos pés daquela saudosa comidinha. E os passeios inesquecíveis de táxi, com seu português engraçado que quase nos levava ao bairro errado... Minha avó era o máximo!

Mastigo aquele plástico. A criança parece mais interessada no que acontece lá fora. Com o nariz enfiado na janela vai espalhando suas digitais pelo vidro antes tão limpo. A avó termina o prato e se levanta, sem avisar a menininha. Penso que ela vai ao banheiro, mas fico imaginando se a menina não se assustaria ao olhar para trás e se ver sozinha.

Termino de comer, deixando as batatas, que frias, são intragáveis, e me preparo para levantar. Olho mais uma vez para o lado e a criança continua lá, entretida com o movimento dos carros. Mas faz muito tempo que a avó se foi. Teria acontecido algo? Preocupada, vou ao banheiro. Está vazio. Sento mais uma vez e tento não me alarmar. Depois de duas horas, nada da velhinha. E ela nunca mais voltou.
 

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