


Depois da chuvarada que caiu por estas bandas na semana passada, fui fazer uma matéria no meio de uma montanha, a tal Gyodo-san, em Ashikaga! Tá vendo essa "cachoeira"? Pois é, isso era a água escorrendo lá de cima!
A placa mostra onde eu estou, no estacionamento, e o templo onde seria realizado um festival de música, bem no meio... Ser analfabeto é uma tristeza! Eu não tinha idéia da distância, mas tinha que chegar lá!
Viu a escadinha? Era só o comecinho, fui me embrenhando pela mata carregando tripé, câmera, acessórios... deixei o guarda-chuva, melhor morrer de pneumonia que carregar mais coisas... Fui subindo, subindo, subindo, a mata foi fechando, ficando meio escuro, o barulho da aguaceira escorrendo não me permitia ouvir mais nada e eu morrendo de medo de cobra, macaco, sei lá o quê nessa selva...
Fui suando e desidratando, acabei botando tudo pra fora antes de chegar ao tal templo.... A altitude também não ajudou em nada. Lembrei do monte fuji!!! Pensei, putz, hoje eu morro! Olhava pra cima e só via mais escadas, lamacentas, esverdeadas, encharcadas... Tive pavor de escorregar e cair. Empunhei o tripé como uma arma, olhando para todos os lados, para cima e para baixo, ficando mais zonza...
Passei por um casebre e tive dó de quem mora ali, nem sinal de vida... Fui subindo mais um lance de escadas quando uns cachorros apareceram. Não conseguia nem correr. Subi até o topo e um maldito cachorro veio atrás! Exausta, encostei o tripé no chão, no jeito, caso precisasse usá-lo, e coloquei a sacola com os acessórios entre a fera e eu. Ele ficou cheirando, ladrando e arreganhando os dentes. Minha raiva era maior que a dele, se atacasse seria melhor me matar, senão ele com certeza levaria a pior!
Aí apareceu um velhinho. Devia estar dormindo. De olho no cão, perguntei ao homem onde era o templo. Ou minha voz tinha acabado ou ele era surdo. A cachorrada gritando, eu achando que estava berrando, aquela mata fechada... Repeti minha pergunta e ele foi recolhendo os cachorros, não sei quantos tinha, estava preparada para enfrentá-los não importava o número.
Fui descendo e o cachorro respeitou a minha cara de ódio, foi na frente, abanando o rabo e de vez em quando me ameaçando. O velhinho prendeu os cachorros, que finalmente se calaram. Queria sentar, tomar água, respirar... consegui me fazer entender e ele me disse que o tal Join ji era lá mesmo! Só então notei um enorme sino na frente da casa! Era lá, mas o festival havia sido cancelado porque havia muita água impedindo que se puxassem os cabos de energia! (pelo menos foi o que eu entendi)
Queria sentar e chorar lá mesmo, mas estava tudo enlameado. O homem chegou a me mostrar o "palco" e eu só queria soltar uns palavrões.
Agradeci e imediatamente comecei a descer, temendo que ficasse muito escuro e mais perigoso. No meio do caminho, botei tudo pra fora de novo, pelo menos o que restava...
O lugar era tranquilo, bonito, mas eu tinha sede e não me atrevi a beber aquela água que jorrava aos montes. Também não me agradava estar lá sozinha, e se eu desmaiasse? A sensação, pelo menos, eu tinha. Dramática, imaginei um helicóptero resgatando o meu corpo inerte dias depois, em parte comido por bichos, só reconhecível pela arcada dentária.
A imagem me apressou e consegui chegar ao estacionamento. Quando terminava de guardar o equipamento, um carro se aproximou. Uma senhora parou e ligou para alguém. O que será que ela queria num lugar tão ermo? Estaria ela encontrando o seu amante? Achei graça imaginando ela com algum velhinho, coisa antiga, separados pelos costumes da sua época, mas ainda apaixonados, obrigados a casamentos falsos em nome das tradições. Isso que dá gostar tanto de literatura... Me aproximei e fiz sinal para "falar", perguntei se ela iria ao festival, disse que não, então eu fui embora.
Parei um pouco para tirar fotos e logo a mulher me alcançou. Achei que ela vinha atrás de mim... seria ela da yakuza? E se ela foi lá jogar algum corpo? Ai, meu deus, e agora? Eu vi seu rosto, seu carro... Pisei no acelerador e voei nas curvas. Virei na primeira rua e ela seguiu reto... acho que ando vendo muitos seriados policiais... hahaha
Finalmente cheguei a um combini. Água engarrafada, pelo amor de deus! Peguei um chá gelado também. Ainda dava tempo de cobrir um "carnaval" para japas na minha cidade...